Natal para recordar
Esta podia ser uma história como todas as outras, mas a verdade é que não o é.
Mas não se encham de curiosidade, eu apresento-me, eu sou o Pedro, mais conhecido como Pedrinho para as meninas (incluindo as auxiliares da nossa instituição), e Pedrão para os meninos. Sinceramente, não sei por que me chamam assim, o Rui diz que é por conseguir a atenção de todas as meninas da instituição, e quando digo todas, é mesmo tooooodas… Continuando, sou um menino de 6 anos, alto, magro, olhos castanhos e cabelos loiros, a Anita, uma das minhas amigas, diz que sou elegante e eu acredito, porque todas dizem o mesmo. Vivo na Instituição das Tulipas desde sempre.
Na noite passada, acordei durante a noite com o reflexo da luz da sala de jantar, levantei-me e ouvi alguém falar. A Anita diz que sou um menino muito corajoso, então, calcei os meus chinelos de pinguim e fui ao encontro das vozes, quando me aproximei, reconheci a voz da senhora Joana, uma das auxiliares, espreitei pela beirinha da porta e vi-a a chorar abraçada à senhora Rosa, estava prestes a ir ter com elas, quando a senhora Joana falou e então decidi recuar e escutar.
A senhora Joana disse que reviu o orçamento, e temia não ter dinheiro para comprar prendas para todas as crianças. Ao ouvir isto, fiquei admirado, porque estaria a senhora Joana preocupada? O Pai Natal e os seus duendes é que fazem os presentes e nos trazem na noite de Natal! Entrei na sala de jantar e perguntei à senhora Joana por que estava ela a dizer aquelas coisas, e tentei animá-la dizendo que o Pai Natal não precisa que ela gaste dinheiro, eles é que fazem os presentes. A senhora Rosa esboçou um sorriso e disse-me para me sentar no colo dela (ia dizer-lhe que já não tenho idade para isso, já sou um homem, mas não estava na ocasião certa para o dizer), sentei-me e coloquei o braço por cima de cada uma delas. Foi então que a senhora Rosa me disse:
- Sabes, Pedrinho, tens razão. Estás um menino muito crescido.
Agradeci o elogio com um beijinho, despedi-me e voltei para a cama.
No dia seguinte, a senhora Joana pediu-nos para começarmos a escrever a carta ao Pai Natal, e, de seguida, iríamos com a doutora Rita aos correios, como é habitual todos os anos. Como também é costume, depois da ida aos correios, chegamos a casa e todas as auxiliares estavam à nossa espera para cantarmos canções de Natal e cada um pôr efeitos e desenhos na árvore, bem como a sua meia.
Todos nós penduramos a meia, e a doutora Rita, soltando uma gargalhada, convidou o Raul a ir lavar a meia dele (é escusado dizer porquê).
Enquanto a senhora Paula, a nossa cozinheira, ainda estava a fazer o jantar, aproveitei e fui ter com os meus amigos para descobrir o que cada um queria para o Natal. A Anita quer o DVD da Princesa e o Sapo, o João quer uma bola de futebol nova, a última rebentou quando um menino da nossa escola a chutou, a Eva quer um verniz azul, parece que é uma moda nova lá na escola dela, a Catarina quer uma saia como as meninas ricas usam, o Rui quer umas sapatilhas para impressionar a Catarina, o Raul quer um livro com histórias dos grandes inventores, por fim, eu pedi que pudesse passar o dia de Natal com uma família, mas que a minha família (todas as pessoas da instituição) pudesse também passá-lo comigo.
Estes últimos dias têm passado a correr, já só falta uma semana para o dia de Natal, e a nossa casa tem estado num rodopio, estão sempre a entrar pessoas para nos convidar a irmos passar aquele dia com eles, eles vêm e escolhem uma criança para ir.
Hoje, quando fui ao jardim, vi a senhora Joana a olhar para um desenho que todos nós fizemos para ela, um desenho da nossa família, corri para ela e dei-lhe um enorme beijinho, ela sorriu e segredou-me que estava com a sensação de que este Natal iria ser diferente. Nesse momento, entra pelo portão um lindo senhor com uns olhos profundos, mas brilhantes e sinceros, aproximou-se de nós e disse:
- Olá, Pedro, reconheces-me?
Agarrei-me à senhora Joana, porque não o conhecia, como saberia ele o meu nome? Foi então que ele me explicou que era meu tio, os meus pais tinham morrido e quando ele foi para França não me quis levar com ele porque iria ter de aprender uma nova língua, foi por isso que me deixou com a senhora Joana, uma velha amiga dele. Olhei para ela, e a senhora Joana acenou com a cabeça como quem confirma a história, sorri, e ele convidou-nos a todos para irmos passar o Natal com ele e com os meus primos. Voltei a olhar para a senhora Joana, e foi então que ela me piscou o olho e disse baixinho:
- Vês? Eu disse-te!
Corri para dentro para contar a todos que, este Natal, iríamos passá-lo todos juntos, numa casa muito grande! Abraçamo-nos, saltamos, rimos, estávamos mesmo felizes, iria ser o melhor dia de sempre. Preparamos as prendas que tínhamos feito para cada um, e fomos todos para o jardim para o pé do meu tio.
E assim fomos para a tão esperada casa. Quando lá chegamos, ficamos todos de boca aberta, até a Anita, que está habituada a ver grandes casas em filmes. Pedimos permissão para entrar e fomos conhecer os meus primos, foi impossível não reparar na decoração da casa, um enorme pinheiro com muitas fitas, bolas, sinos, laços e muitos presentes debaixo da árvore, e a mesa? Bem, essa estava recheada de doces, aletria, pão-de-ló, bolo-rei, chocolates, tudo o que uma criança adora, vimos também montes de DVD’s, se nos apetecesse ver filmes ao longo da noite, montes de jogos. Quanto aos meus primos, eles são divertidíssimos, este é sem dúvida o melhor Natal de sempre!
O meu presente foi, sem dúvida, recebido.